O mercado financeiro que nunca dorme: entre as expectativas e os riscos | Artigo por Maurício Takahashi, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, campus Alphaville.
Imagine um pregão (momento de negociação de contratos em um mercado de bolsa de valores) que nunca fecha. Uma espécie de Wall Street versão Las Vegas: luzes sempre acesas, máquinas sempre ligadas. A ideia de um mercado aberto 24 horas por dia, sete dias por semana vem sendo alimentada pelo exemplo das criptomoedas e, agora, seduz gigantes como a tecnológica NASDAQ e a NYSE.
O fascínio é evidente: acesso irrestrito às negociações, reação imediata às notícias, um mundo sem campainha de abertura ou fechamento. Mas, como em toda euforia de bull market, o brilho pode esconder riscos.
Na prática, negociações 24/7 significam operar sem parar, sem “janelas mortas”. Hoje, esse ritmo já existe com os criptoativos, forex e futuros, que funcionam quase ininterruptamente. Corretoras como Robinhood e Interactive Brokers abriram o caminho com pregões estendidos. E uma novata, a 24 Exchange, já recebeu aval regulatório para estrear com quase 23 horas diárias de pregão.
Os movimentos da NASDAQ e da NYSE mostram que a tendência deixou de ser rumor: o relógio do mercado está sendo reprogramado.
Por que essa corrida? Primeiro, a globalização: investidores asiáticos não querem operar na madrugada para acessar Wall Street. Depois, a cultura cripto: uma geração acostumada a comprar tokens a qualquer hora do dia estranha que o mercado de ações mais sofisticado do planeta feche às 16h.
E, por fim, a lógica da informação: notícias e crises não seguem calendário. Uma mudança de grandes proporções no sábado ou um balanço divulgado no domingo à noite encontram, hoje, um mercado fechado. O pregão contínuo promete preencher esse vácuo.
Mas o mercado, como o corpo humano, precisa de pausas para respirar. Estender o horário traz conveniência, mas também pode resultar em liquidez rarefeita na madrugada, ou seja, sem o volume de compradores e vendedores esperado.
Por consequência, preços vulneráveis à manipulação e à tentação da reação imediata, muitas vezes irracional. Há também o custo operacional de manter sistemas, reguladores e pessoas em alerta permanente. Como dizem os traders veteranos: “até os touros e os ursos precisam dormir”.
No fim, ampliar o pregão é inevitável, mas não é gratuito. É a ponte para um mercado mais acessível ou a armadilha de um mercado exausto?
O sonho de Wall Street é nunca mais dormir, já que o dinheiro nunca dorme, mas resta saber se investidores e instituições aguentam correr essa maratona sem linha de chegada.
Autor: Maurício Takahashi, professor de Ciências Econômicas da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), campus Alphaville.
Leia mais:
Planejamento financeiro para a aposentadoria – veja dicas
Reserva de emergência: veja quanto guardar e quando começar
Derivativos de Boi Gordo avançam na bolsa de valores (B3)
Precisa calcular e pagar o Imposto de Renda de investimentos na bolsa de valores? Assine o aplicativo Grana Capital com o cupom 0349825 e receba R$ 90 de desconto no Plano Mais Grana Anual