Tensões com os EUA e tarifas são um risco para fluxos de capital

Análise

Tensões com os EUA e tarifas são um risco para fluxos de capital

Fluxos de capital e sentimento em relação ao Brasil podem mudar

Relatório Raio XP de setembro de 2025 assinado pelos analistas Fernando Ferreira (CFA, Estrategista-Chefe e Head do Research), Felipe Veiga (Estrategista de Ações), Raphael Figueredo (Estrategista de Ações), Júlia Aquino (Estrategista Quantitativo) e Lucas Rosa (Estratégia Quantitativo):

Da euforia para (alguma) cautela

No fim de maio, o nosso Indicador de Sentimento XP atingiu níveis de otimismo extremo, marcando 100 (em uma escala de 0 a 100), após a forte alta observada no Brasil, causada principalmente pela rotação global de capitais dos EUA para os Mercados Emergentes (especialmente a América Latina).

Esse movimento foi sustentado por fatores como:

1. O Banco Central brasileiro sinalizando que o atual ciclo de aperto monetário estava se aproximando do fim, contribuindo para uma mudança de regime macro em direção a um ambiente de “Inflação em Alta, Juros em Queda”, que historicamente tende a favorecer as ações.

2. A tarifa-base de 10% anunciada no Dia da Libertação (2 de abril), baseada nas balanças comerciais. Como o Brasil apresentava superávit, recebeu apenas a tarifa-base, fazendo com que o país e outros mercados latino americanos emergissem como vencedores relativos do cenário global, dado sua posição mais protegida na guerra comercial (enquanto outros países foram atingidos por tarifas mais altas) e um dólar mais fraco.

Desde então, muita coisa aconteceu, mas o principal desenvolvimento foi o anúncio, no início de julho, de uma tarifa de 50% sobre o Brasil pelos EUA, em função de questões políticas e do aumento das tensões entre os dois governos.

Isso incluiu a retirada de vistos de autoridades brasileiras e a aplicação da Lei Magnitsky a um ministro do STF. Como resultado, observamos aumento da volatilidade nos ativos brasileiros, e o nosso Indicador de Sentimento recuou para níveis Neutro para Ligeiramente Negativo, em 44 atualmente.

Além disso, vale destacar que a tendência dos fluxos estrangeiros para o Brasil mudou claramente após 9 de julho (anúncio das tarifas).

Desde então, já vimos mais de R$ 23 bilhões de saídas de ações brasileiras por parte de investidores estrangeiros (considerando mercado à vista e futuros), praticamente zerando o fluxo líquido no acumulado de 2025.

Apesar disso, os ativos brasileiros mostraram forte resiliência e se recuperaram em agosto, devido a: um Micro sólido, já que a temporada de lucros do segundo trimestre foi a melhor em 3 anos;  valuation ainda atraente; expectativas de taxas mais baixas no futuro; e início das negociações eleitorais.

Apesar da maior adversidade, a resiliência dos ativos brasileiros em meio ao aumento das tensões com os EUA tem chamado atenção.

Acreditamos que isso se deve a alguns fatores principais: o micro e os fundamentos seguem sólidos, como visto na temporada de resultados do 2T25 acima do esperado; cresce a antecipação de uma mudança de regime macro, com perspectiva de juros mais baixos à frente; valuations seguem atrativos; e o “trade eleitoral” se aproxima, o que tende a aumentar o apetite dos investidores por ativos de risco.

No lado micro, a temporada de resultados foi melhor do que o esperado, embora a reação do mercado tenha sido em geral neutra para as ações do Ibovespa (+0,41%, média simples).

Importante destacar que o mercado mostrou assimetria no precificação das surpresas – em média, as surpresas positivas geraram +1,32%, enquanto as negativas resultaram em -0,50%.

Dito isso, observamos que o guidance foi relativamente cauteloso em relação a uma possível desaceleração econômica no 2º semestre de 2025.

Na nossa XP CEO Conference 2025, o principal tema entre as companhias foi justamente a possibilidade de uma atividade mais fraca no segundo semestre pesando sobre os lucros.

Além disso, com os juros ainda elevados, empresas mais alavancadas e/ou dependentes de crédito continuam sofrendo mais.

Vimos alguns setores ainda operando em plena capacidade (construtoras de baixa renda), outros mantendo uma mensagem positiva, mas com certa cautela à frente (bancos, varejo), e outros mais dependentes de crédito ou sensíveis a juros (transportes).

Ainda assim, o mercado já começou a precificar esse cenário de desaceleração, com o consenso de estimativas de lucro por ação sendo revisado para baixo na maioria dos setores – tema que exploramos na próxima seção.

Podemos observar um regime macro mais favorável para as ações à frente, à medida que os juros começam a cair e a inflação recua. Como já destacado, o regime de juros influencia de forma significativa a direção dos retornos nominais.

Mais especificamente, ressaltamos que o regime atual (Inflação em alta, Juros em queda), historicamente culmina em uma melhora do Ibovespa, com retornos positivos em 62,5% dos casos e retorno real anualizado de 7,6%, apesar de esses períodos serem relativamente curtos (média de 164 dias).

Além disso, destacamos que ações de Baixo Risco e Valor tendem a apresentar desempenho forte, superando o índice em 85,7% e 71,4% das ocorrências, respectivamente.

O Brasil segue atrativo em termos históricos. Considerando o P/L projetado do Ibovespa, e mesmo excluindo os setores de Materiais e Energia do índice, o valuation do Ibovespa continua atrativo, com o múltiplo ainda 1 desvio-padrão abaixo da média dos últimos 15 anos.

Isso ocorre apesar da alta recente, seguido de uma correção diante do aumento do ruído político (tanto doméstico quanto global), e agora recentemente retomando a sua alta histórica – o que demonstra significativa resiliência.

Ao analisarmos os diversos vetores estruturais, como: valuations deprimidos; possíveis cortes de juros em breve no Brasil e nos EUA; lucros ainda sólidos; a depreciação do dólar como fator positivo para fluxos estrangeiros nos mercados globais; e o “trade eleitoral” em 2026; o movimento de rotação de capital dos EUA para emergentes segue vivo e forte.

Essa dinâmica é reforçada pela combinação entre cortes de juros, depreciação do dólar como mecanismo de correção de desequilíbrios comerciais (sugerindo a continuidade da tendência) e a possibilidade de mudanças políticas em direção a um viés mais pró-mercado – e o Brasil, nesse contexto, é o maior e mais líquido mercado da região.

Portanto, apesar do peso dos fluxos relacionado às tarifas, acreditamos que a tese otimista para as ações brasileiras segue assimétrica, sustentada por esses diversos vetores.

Autores: Fernando Ferreira (CFA, Estrategista-Chefe e Head do Research), Felipe Veiga (Estrategista de Ações), Raphael Figueredo (Estrategista de Ações), Júlia Aquino (Estrategista Quantitativo) e Lucas Rosa (Estratégia Quantitativo).

Conteúdo: XP Investimentos

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