Marcelo Hirata, managing partner da aguilahub

Tecnologia, cultura e urgência: a reinvenção das seguradoras

Seguros

Marcelo Hirata

Durante anos, o setor de seguros foi visto como um gigante lento — conservador por natureza, preso a estruturas operacionais antigas, resistente à mudança. Mas isso está mudando. E mais do que uma mudança estética, estamos assistindo a uma transformação estrutural, profunda, e, sobretudo, inevitável.

As seguradoras perceberam que a inovação deixou de ser uma opção. Num cenário de clientes mais digitais, dados mais sensíveis e uma concorrência cada vez mais ágil (vide as insurtechs), modernizar-se é uma questão de sobrevivência — não mais uma escolha.

Três exemplos emblemáticos

Tomemos três exemplos emblemáticos: Bradesco Seguros, Generali e MAPFRE. Três gigantes que não apenas entraram na corrida digital, mas escolheram liderá-la — cada uma à sua maneira.

A Bradesco Seguros apostou muito em inteligência artificial generativa. Em parceria com a GFT, implementou a solução Wynxx e colheu frutos expressivos: até 40% de ganho em produtividade, aceleração no ciclo de entrega de software e maior agilidade operacional.

Mas o mais importante foi o investimento em pessoas. Mais de 180 colaboradores foram treinados para operar essa nova tecnologia — um sinal claro de que a inovação, para ter impacto real, precisa ser compreendida internamente.

Já a MAPFRE foi além da tecnologia. Lançou um manifesto global para o uso ético da IA e criou um centro internacional de inteligência artificial com atuação no Brasil, Espanha e EUA.

Não é à toa: com mais de 115 casos de uso de IA implementados, a empresa prova que é possível crescer tecnologicamente sem abrir mão de princípios.

Automação de processos, personalização de produtos e até análise de sentimentos estão no escopo — tudo com foco em melhorar a experiência do cliente. Ética e eficiência podem (e devem) andar juntas.

A Generali seguiu outro caminho, mas igualmente potente. Criou o projeto Agilitá, com foco em resolver um dos maiores gargalos do setor: a judicialização.

Ao combinar IA, Legal Analytics, RPA e plataformas de resolução online, conseguiu reduzir em 72% o tempo médio dos processos judiciais.

O resultado? Economia, agilidade e — talvez o mais importante — alívio para os clientes em momentos delicados. Aqui, tecnologia virou instrumento de empatia.

Sinais de virada

Esses casos não são exceções. São sinais de uma virada. Uma virada que vem sendo acelerada por novas regulações, por modelos como o Open Insurance e pela pressão legítima dos consumidores.

E, se olharmos com atenção, perceberemos que a verdadeira inovação não está apenas no uso da tecnologia em si, mas na forma como ela é integrada à estratégia de negócio, à cultura da empresa e ao cuidado com o cliente.

Inovar por inovar é moda. Inovar com propósito é visão. E é aqui que as seguradoras que querem existir — e prosperar — nos próximos 10 anos precisam focar.

Zona de conforto

Claro, ainda há muito a ser feito. Muitas empresas do setor continuam mantendo o status quo de suas plataformas legadas,seja por uma questão de custos ou por zona de conforto.

A maioria ainda enfrenta grandes desafios para integrar dados, reduzir atritos no atendimento, prevenir fraudes com inteligência e oferecer produtos sob medida, dado as plataformas tecnológicas e processos que sustentam estas atividades.

Mas a lição está dada: quem não mudar vai ficar atras da concorrência e amargar redução de sua participação no mercado. Quem se antecipar vai liderar.

O que Bradesco, Generali e MAPFRE estão mostrando é que dá para fazer diferente — com coragem, estratégia e execução. E que não há nada de contraditório entre tradição e transformação.

Marcelo Hirata é managing parter da águilahub