Lutero e a Economia do Sétimo Mandamento | Por Allan Gallo

Economia

Lutero e a Economia do Sétimo Mandamento | Artigo por Allan Gallo, professor de Economia na Universidade Presbiteriana Mackenzie. 

É verdade que Martinho Lutero não escreveu tratados de economia, mas sua teologia moral contém diretrizes que moldaram o pensamento econômico ocidental de forma ampla.

Um grande exemplo disso é o Catecismo Menor, publicado em 1529, originalmente concebido como um manual de instrução cristã para famílias e comunidades.

Nele, Lutero explica os Dez Mandamentos à luz da vida cotidiana, enfatizando a responsabilidade individual diante de Deus e do próximo.  

No sétimo mandamento, “Não furtarás”, ele adverte: “Devemos temer e amar a Deus e, portanto, não tirar ao nosso próximo o dinheiro ou os bens, nem nos apoderar deles por meio de mercadorias falsificadas ou negócios fraudulentos; mas devemos ajudá-lo a melhorar e conservar os seus bens e o seu meio de vida”.

À primeira vista, o texto pode parecer apenas uma instrução teológica, mas essa formulação vai além da simples proibição do furto.

Na verdade, ela traduz uma ética econômica de serviço mútuo, em que o trabalho, o comércio e a propriedade são expressões de vocação e confiança.

O mandamento implica que a liberdade só é virtuosa quando preserva o bem comum e não quando se torna licença para explorar.

Há aqui o embrião de um princípio central da moderna liberdade econômica, que é o direito de empreender e possuir bens condicionado ao respeito pelos direitos dos outros. 

A liberdade econômica é um subconjunto das liberdades humanas. Refere-se à capacidade das pessoas de trabalhar, negociar, contratar e usar a propriedade produtiva de acordo com suas próprias escolhas. 

Estudos como os publicados pelo Instituto Fraser, do Canadá, que também elabora regularmente o Índice de Liberdade Econômica Mundial, mostram que quanto maior a liberdade de decisão individual, maior tende a ser o desenvolvimento e o padrão de vida.

Desde 1970, o referido índice mede esse grau de liberdade em mais de 160 países, avaliando cinco dimensões bem conhecidas: tamanho do governo, sistema legal e proteção aos direitos de propriedade, estabilidade monetária, liberdade de comércio internacional e regulação.  

Essas dimensões dialogam diretamente com a ética do sétimo mandamento. O respeito à propriedade e aos contratos reflete a proteção legal e moral contra o furto institucional.

A estabilidade monetária resguarda o valor do trabalho e da poupança, evitando o “furto invisível” da inflação.

A liberdade de comércio promove a cooperação entre os povos, e a limitação do poder governamental impede que a coerção substitua a confiança.

Assim, é fácil perceber que a doutrina cristã expressa em um dos primeiros documentos da Reforma e a liberdade econômica convergem em um ponto essencial: a verdadeira prosperidade nasce quando a liberdade é guiada pela responsabilidade diante de Deus e pelo dever de apoiar o progresso do próximo.

Autor: Allan Gallo, professor de Economia na Universidade Presbiteriana Mackenzie

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