IPCA-15 de setembro: o seguro que não nos trouxe segurança | Artigo por Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos.
O IPCA-15 de setembro surpreendeu para baixo ao registrar alta de 0,48% (vs. consenso de 0,52% e nossas projeções em 0,54%). No acumulado em 12 meses, o índice acelerou 37 bps em relação a agosto, alcançando 5,32%.
Apesar da surpresa baixista, avaliamos que o resultado não representa uma melhora qualitativa da inflação. Isso porque a desaceleração observada em serviços subjacentes foi puxada por itens voláteis, como seguros de automóveis e passagens aéreas, que tendem a devolver parte dessa queda nos próximos meses, enquanto outras métricas de núcleo, excluindo a volatilidade, continuam mostrando aceleração.
Após o resultado, reestimamos nosso IPCA cheio de setembro em 0,52% (em razão dos itens que por metodologia repetem no IPCA cheio), levando 2025 para 4,5%, e mantivemos nossa projeção de 4,6% para 2026.
A maior surpresa veio dos seguros de automóveis, que apresentaram deflação de -5,95% (vs. 0,54% em agosto). Por ser um item classificado nos núcleos de inflação, esse movimento puxou os serviços subjacentes para baixo.
Acreditamos, porém, que o resultado pode ter sido influenciado por alguns fatores: (i) o impacto do IPI Verde, de forma semelhante ao observado em 2023, quando o índice entrou em deflação dois meses após a medida sobre veículos novos, (ii) a queda dos preços de seguros em modelos populares após forte alta anterior e (iii) não descartamos efeito-base, dado o encarecimento do grupo em 2024, após as enchentes no Sul do país.
Importante destacar que a intensidade da queda surpreendeu, com magnitude próxima ao observado em dezembro de 2011 (-6,73%), episódio seguido de recuperação, em medidas menores, nos meses subsequentes.
Já as passagens aéreas também chamaram atenção, com deflação de -2,61% (vs. nossa expectativa de +2,0%). Apesar da volatilidade típica do item, o resultado foi incorporado ao IPCA cheio de setembro e revisamos e revisamos a curva mensal até o final do. Vemos agora deflação em avião encerrando o ano -3,19%.
Nos serviços, a alimentação fora do domicílio (+0,36%) veio abaixo do esperado, mas esse alívio acabou compensado por altas mais expressivas em aluguel residencial (0,53%) e hotel (+1,19%).
Entre os demais itens voláteis, recreação e cinemas tiveram deflação de -4,78%, reflexo da Semana do Cinema realizada entre 28 de agosto e 3 de setembro. O movimento já estava no nosso radar e deve ser revertido no IPCA cheio de setembro, quando projetamos alta de +4,0% para o grupo.
Nos alimentos no domicílio, a deflação foi de -0,63%, em linha com nossa projeção (-0,61%). Os in natura registraram o nono mês consecutivo de queda (-2,32%), com destaque para batata-inglesa (-5,88%) e mamão (-7,38%).
Entre cereais e leguminosas, a deflação de -2,86% foi puxada por arroz (-2,91%) e feijão-carioca (-2,84%). Vemos este item abaixo de 4% neste ano e com viés para ficar mais perto de 3% em razão de carnes.
Temos alta expressiva a partir de outubro. Hoje a maior probabilidade é de que isso não aconteça, o que tira -15 bps do IPCA deste ano.
Nos administrados, a gasolina recuou -0,13% (vs. nossa projeção de -0,10%), enquanto a energia elétrica avançou 12,17%, devolvendo o bônus de Itaipu concedido no mês passado. Para o final do mês vemos alta de 10,45%.
Ressaltamos ainda que, para a reunião da Aneel desta quinta-feira (26/09), o cenário continua indicando bandeira vermelha 2.
Do lado qualitativo, a leitura dos núcleos mostra deterioração ao excluir o efeito do seguro de automóveis. O núcleo Ex-2, por exemplo, passaria de 0,16% para 0,28%, enquanto o IPCAEX-3 subiria de 0,17% para 0,31% e o IPCAEX-0, de 0,15% para 0,23%.
Já os serviços intensivos em trabalho aceleraram para 5,76% na média móvel de três meses dessazonalizada e anualizada (vs. 5,58% em agosto). Observamos também aceleração no grupo inercial, movimento iniciado em agosto e que se mantém em patamares elevados em setembro.
Nossas projeções indicam que esse comportamento deve persistir até o fim do ano, antecipando o padrão de aceleração observado em 2024.
>Projeções de curto prazo:
🔽 IPCA setembro de 0,59% para 0,52% (ajuste em seguro de automóveis e avião)
🔽IPCA outubro de 0,30% para 0,27% (ajuste em avião)
Revisamos o IPCA de 2025 para 4,5% em razão da surpresa com a divulgação de hoje e de alguns ajustes na curva mensal de passagem aérea. Ainda vemos risco para baixo nesta projeção do ano em razão de alimentos. Para 2026 seguimos com a projeção de 4,6% e com o balanço de riscos assimétrico altista.
Autora: Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos.
Leia mais:
ETFs da Nu Asset investem em renda fixa nos EUA
BlackRock e B3 expandem listagem de ETFs globais
Planejamento patrimonial das mulheres: a liberdade de escolher quando desacelerar na carreira
Planejamento financeiro para a aposentadoria – veja dicas
Reserva de emergência: veja quanto guardar e quando começar
Precisa calcular e pagar o Imposto de Renda de investimentos na bolsa de valores? Assine o aplicativo Grana Capital com o cupom 0349825 e receba R$ 90 de desconto no Plano Mais Grana Anual