IPCA de setembro 2025 reforça cenário benigno: desaceleração antecipada e melhora qualitativa dos núcleos | Análise por Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos.
O IPCA de setembro 2025 trouxe nova surpresa baixista, ao registrar alta de 0,48% (nossa projeção: 0,51%; consenso: 0,52%). No acumulado em 12 meses, o índice acelerou 4 bps em relação a agosto, alcançando 5,17%.
📌 Avaliamos o resultado como uma melhora qualitativa da inflação. A desaceleração dos serviços subjacentes (+0,03%) e outras métricas de núcleo mantiveram o bom comportamento, com desaceleração mais intensa e antecipada em relação à nossa expectativa de desaceleração dos núcleos no fim do ano.
Segundo nossas estimativas, os serviços subjacentes excluindo cinema registrariam alta de 0,28%, ante 0,10% em setembro de 2024 (também sem o item cinema).
Entre os fatores relevantes, destacamos também o câmbio mais apreciado, com pass-through mais rápido para bens sensíveis à taxa de câmbio. Também é possível que parte desse alívio esteja relacionada a descontos antecipados do varejo no pré–Black Friday, o que pode gerar uma devolução parcial em novembro.
Após o resultado, reestimamos o IPCA de outubro para 0,13%. Para novembro e dezembro esperamos 0,18% e 0,49%, respectivamente. Mantemos nossa projeção para 2025 em 4,5% (risco baixista) e 2026 em 4,6%, com balanço de riscos assimétrico altista.
Nos serviços (0,13%), a alimentação fora do domicílio (+0,11%) veio abaixo do esperado, contribuindo para a surpresa baixista.
As recentes notícias sobre contaminação por metanol em bebidas devem exercer um impacto adicional de baixa nas próximas divulgações, diante da queda nas vendas já reportadas pelo setor.
Parte desse efeito pode ter começado a aparecer nesta leitura, ainda que de forma leve, devido ao curto período de coleta após o episódio.
Ainda na categoria, passagens aéreas também exerceu influência baixista, repetindo, por metodologia do IBGE, os dados do IPCA-15 e registrando deflação de -2,83%.
Apesar da queda, o item tende a voltar a subir até o fim do ano, refletindo os reajustes ocorridos nos últimos meses. Também chamaram atenção os serviços de estética, com alta de +0,07% ante nossa projeção de +0,5%, contribuindo para o resultado mais benigno.
A energia elétrica subiu 10,31%, em linha com nossa estimativa de 10,45%, contribuindo para o lado altista do número,devido a bandeira tarifária vermelha patamar 2 e devolução do Bônus de Itaipu aplicado em agosto.
Projetamos alívio no IPCA-15 e no IPCA cheio de outubro, dado a implementação da bandeira vermelha 1 para vigência no mês de outubro, que reduz a cobrança adicional nas tarifas.
No grupo de transportes, houve surpresa altista em gasolina (+0,75%), que segue em foco devido à defasagem ainda elevada e às notícias recentes sobre possível pressão em relação aos reajustes.
O grupo, que vinha apresentando deflação desde abril, voltou a mostrar pressão, levantando sinal de atenção para os próximos meses.
Em recreação, os cinemas e espetáculos devolveram o desconto da Semana do Cinema (28/08 a 03/09). Após o recuo de -4,78% no IPCA-15, o item registrou alta de +2,75%, abaixo da nossa projeção de +4,0%.
O movimento, apesar de já esperado, apresentou intensidade mais moderada, o que também contribuiu para o resultado positivo.
Nos alimentos no domicílio, a deflação foi de -0,41%, abaixo da nossa estimativa (-0,28%). Os alimentos in natura recuaram -1,49%, mantendo a tendência deflacionária iniciada em maio.
Destaques para batata-inglesa (-8,55%) e alface (-3,63%), com tubérculos e raízes (-7,84%) apresentando mais um print de forte deflação.
Entre cereais e leguminosas, a deflação de -1,97% refletiu quedas de arroz (-2,14%) e feijão-carioca (-0,6%).
Vale lembrar que o arroz acumula deflação desde outubro de 2024, reduzindo pressões sobre a cesta básica.
O grupo de carnes apresentou nova deflação (-0,1%), completando o quarto mês consecutivo de queda.
Para alimentação no domicílio, esperamos encerramento do ano abaixo de 4%, com viés de baixa próximo de 3%, em razão das carnes.
Apesar de esperarmos alguma alta a partir de outubro, o comportamento do boi gordo, que não tem mostrado a valorização sazonal típica, tende a limitar esse movimento (retirando cerca de -15 bps do IPCA de 2025).
📌 Do ponto de vista qualitativo, as médias móveis dos núcleos reforçam o cenário de desaceleração antecipada.
Na média móvel trimestral dessazonalizada e anualizada, serviços desaceleraram para 5,62% (vs. 6,35% em agosto); serviços subjacentes, para 4,85% (vs. 5,68%); e itens intensivos em trabalho, para 6,19% (vs. 6,34%).
Com o número, fica a dúvida se a parte qualitativa vai voltar a reacelerar como nós temos no número do ano. De toda forma, vale dizer que os níveis deste ano estão piores que em 2024 e 2023.
Por fim, mantemos nossas projeções para o IPCA de 2025 em 4,5%, com risco baixista, e para 2026 em 4,6%, com viés altista.
Autora: Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos.
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