Entrevista de Jorge Gerdau Johannpeter, acionista do Grupo Gerdau e presidente do movimento Brasil Competitivo, concedida à imprensa (Valor Econômico, Agência Estado e Associated News Brazil), em 9 de outubro de 2025, durante o 26º Congresso do Instituto Brasileiro de Governança Cooperativa (IBGC):
Ontem (8/10), a União Europeia colocou medidas de defesa comercial por causa da entrada de aço chinês subsidiado em diversos mercados, entre eles o Brasil. O que isso pode influenciar no Brasil?
Jorge Gerdau – Eu diria que esse exemplo da Europa, dos 27 países que compõem, mais a Inglaterra e a Grécia que normalmente acompanham esses processos, é extremamente importante, porque mostra a mobilização dessa economia europeia toda em relação às decisões políticas que acontecem no mundo.
Essa medida que está sendo tomada afeta e atinge o setor siderúrgico, mas ela é de uma forma mais ampla de proteção da competitividade industrial da Europa. Então, a Europa está sabendo se defender nesse tema de agressão chinesa sobre os mercados.
As empresas siderúrgicas brasileiras diminuíram investimentos. O que o Brasil poderia fazer para minimizar essa questão?
Jorge Gerdau – O Brasil tem uma estrutura tecnológica do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio é altamente competente. Eles fizeram proteções parciais, mas a guerra hoje é total. Então, é o debate e análise que é preciso fazer a nível de governo se dimensão das medidas estão em proporção à agressividade que acontece.
Se eu olho os mercados internacionais e tiver medidas de proteção mais fortes e globais, principalmente em relação ao aço. Nesse momento, os países estão ampliando essa proteção. O Brasil ainda não atingiu os patamares do mundo desenvolvido econômico ocidental. Mas existe, tecnologicamente, uma capacidade hoje.
Agora, na questão de decisão política global, o Brasil, por sua história, não tem uma experiência de medidas mais agressivas, maiores.
Então, nós estamos vivendo um momento hoje que está exigindo uma decisão que não é tradicional no Brasil.
Mas a sensibilidade e o debate que está acontecendo entre o Ministério de Desenvolvimento Indústria e Comércio e o Ministério da Fazenda e a própria presidência, é em relação a acompanhar os comportamentos de proteção que o mercado europeu e os Estados Unidos estão fazendo.
Recentemente houve uma aproximação do presidente Lula com o presidente americano Donald Trump. É possível reverter essa questão da taxação?
Jorge Gerdau – Eu tenho convicções profundas que só se resolvem os problemas dialogando. Então, essa abertura que o presidente está tendo no momento de fazer o diálogo com os Estados Unidos é extremamente importante e temos esperança que, através do diálogo, vai se encontrar caminhos, no curto prazo, para ajustar esse conflito de interesses que temos vivido nas últimas semanas.
A Gerdau estuda novos mercados para diversificar mais ainda sua atuação?
Jorge Gerdau – Nossa evolução tecnológica de investimentos no setor de mineração é um processo que estamos terminando e realmente vai levar a Gerdau ao nível de atender toda a sua demanda e ainda terá capacidade adicional para exportar. Isso é da nossa decisão de competitividade global e do avanço dessa estratégia.
Transcrição da entrevista à imprensa no 26º Congresso do IBGC: Ernani Fagundes Schandert, jornalista especialista nos mercados financeiro e de capitais