IBGC debate governança climática antes da COP 30

Governança

A governança climática esteve entre os principais assuntos debatidos no 26º Congresso do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), em São Paulo, em 8 e 9 de outubro de 2025.

Nas próximas semanas, o tema da governança climática estará em evidência em virtude da realização da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30) que será realizada em Belém (PA) no Brasil.

Nessa etapa preparatória para discussões mais profundas, o presidente do Conselho de Administração da Suzano, David Feffer, defendeu o conceito da sustentabilidade das florestas plantadas.

“As pessoas querem viver melhor. Para uma empresa ser saudável, o mundo precisa ser saudável”, disse Feffer, ao participar do painel Liderança Estratégica e Cultura de Inovação do Congresso do IBGC.

Presente ao evento, o presidente da Scheneider para a América do Sul, Rafael Segrera, destacou que as pessoas desejam a “floresta em pé”, mas também acesso a energia. “Temos que pensar na transição energética”, afirmou.

Questionado pela diretora geral do IBGC, Valéria Café, sobre o sucesso da COP 30 no Brasil, sem a presença dos EUA no Acordo de Paris, Scheneider está confiante que os participantes da COP 30 vão aproveitar essa oportunidade para mostrar o que há de melhor.

Na visão dele, o setor privado possui um papel muito importante no cumprimento das metas climáticas do Brasil. “Os conselheiros das empresas brasileiras devem aproveitar essa oportunidade para abraçar a sustentabilidade e a inovação”, disse.

Exemplos práticos de implementações de governança climática

No painel “Governança climática: casos práticos de implementação e resultados”, Álvaro Lorenz, diretor geral de Sustentabilidade Relações Institucionais, Desenvolvimento de Produto e Engenharia na Votorantim Cimentos, contou que sua companhia irá cumprir as metas de redução de carbono até 2030, e “zerar” as emissões de carbono até 2050.

“Nós conseguimos ao longo dos últimos anos ir substituindo o combustível fóssil importado por caroço de açaí, uma biomassa natural, para a fabricação de cimento”, afirmou. “Na Espanha, por exemplo, usamos o caroço de azeitona”, respondeu ao Associated News.

No compromisso para zerar a emissão de carbono até 2025, Lorenz contou que há “muita pesquisa” sendo feita na área de pesquisa de captura de carbono. “Nós ajudamos na preservação da Mata Atlântica, mas temos necessidade de reflorestamento e de soluções baseadas na natureza”, disse.

Lorenz explicou que as tecnologias de captura de carbono utilizadas pelos países desenvolvidos ainda são muito caras para o Sul Global. “Precisamos de uma solução intermediária, baseada na natureza, até que essa tecnologia fique mais barata”, afirmou.

Presente ao mesmo painel sobre governança climática, Vitor Wanderley, Conselheiro de administração do Grupo Coruripe, sócio-administrador da MGV Participações e Empreendimentos, e também Presidente do conselho de administração da MGV Agroindustrial, contou que seu grupo econômico está adquirindo entre 1 mil e 1,5 mil hectares por ano para preservação ambiental, além dos 19 mil hectares preservados atualmente.

Wanderley contou que mais de 60% da frota do grupo já utiliza biometano para contribuir para as metas.

“A gente gera energia a partir da biomassa. Na área agrícola, estamos substituindo a adubação química pela adubação biológica. Nossa meta é zerar a adubação química”, disse. “Hoje ainda se usa muito adubo químico, mas estamos buscando a agricultura generativa com a adubação biológica. Existem tecnologias não muito caras que substituem os pesticidas”, completou.

Por fim, o conselheiro contou que o Grupo Coruripe irá assinar o primeiro contrato de crédito de carbono na COP 30, em Belém (PA). “Contamos com o Itaú”, disse Wanderley, referindo-se a plataforma de créditos de carbono do banco Itaú.

Painel “Governança Climática: casos práticos de implementação e resultados”. Foto: Ernani Fagundes

Questões globais, impactos locais

O Congresso do IBGC também abordou as questões globais e os impactos locais.

No painel, Manoel Carnaúba Cortez, Sócio-Diretor da Impacto Energia e presidente do conselho de administração da Petrobahia, abordou a dificuldade dos negócios diante da importação de diesel da Rússia pelo Brasil, e da concorrência da Petrobras.

Na visão dele, além da concorrência local, o setor de biocombustíveis é muito afetado por questões geopolíticas globais.

“De um lado, temos os biocombustíveis, e do outro lado temos a Petrobras, que não tem uma política muito clara sobre o diesel e a gasolina. A importação de diesel também está em torno de 20% a 25%. Mas desde a guerra da Ucrânia, nós temos um caso muito particular, pois a Rússia é a nossa principal fornecedora de diesel. Nossos produtos estão sendo muito afetados por essa nova geopolítica nervosa”, afirma.

No mesmo painel, Andrea Menezes, Presidente do Conselho de Administração das Lojas Marisa, contou que o setor de varejo vestuário é extremamente desafiador.

“O risco global é muito grande, as importações de vestuário estão entre 30% a 40%. Nós, conselheiros, devemos ver toda a matriz de risco”, disse.

Como exemplo, Andrea Menezes citou o caso da guerra tarifária entre as principais potências econômicas (EUA e China). “Quando você troca a produção local pela importação, passa a ter o risco geopolítico e da logística. O Conselho precisa avaliar item por item para conhecer os riscos”, afirmou.

Painel “Questões globais, impactos locais”. Foto: Ernani Fagundes

Autor: Ernani Fagundes Schandert, jornalista especialista nos mercados financeiro e de capitais.

Sobre o IBGC 

Fundado em 27 de novembro de 1995, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), organização da sociedade civil, é referência nacional e uma das principais no mundo no tema.

Seu objetivo é gerar e disseminar conhecimento a respeito das melhores práticas em governança corporativa e influenciar os mais diversos agentes em sua adoção, contribuindo para o desempenho sustentável das organizações e, consequentemente, para uma sociedade melhor.

Conteúdo: IBGC

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